Sempre que um político ou famoso dá uma “escapada” ou tem algum escândalo em público, a desculpa é a mesma: vício em sexo. Mas o que separa mau comportamento de vício? E você pode mesmo viciar em sexo, para começo de conversa? De acordo com especialistas, é uma pergunta complicada.
Vício em sexo não é um vício de verdade – ao menos não de acordo com o manual estadunidense Diagnostic and Statistical, que é o livro oficial sobre diagnósticos psicológicos.
Por que? “De acordo com pesquisas, ‘vicio’ sexual não causa as químicas no cérebro que o vício em drogas ou álcool, por exemplo, causam”, diz Kat Van Kir, terapeuta sexual dos Estados Unidos. “No entanto, pode ser um comportamento compulsivo que tem efeitos negativos na vida da pessoa, assim como o ‘vício’ em jogos da sorte.”
Além disso, diferente do abuso das substâncias citadas, sexo ainda é considerado uma parte saudável da vida, ela diz. Por isso, alguns psicólogos argumentam que “vicio” pode não ser o termo correto.
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“Eu não gosto desse diagnóstico pois é uma forma simplista e moralista de explicar comportamentos”, diz Michael Aaron, psicoterapeuta estadunidense. “Eu prefiro o termo comportamento sexual compulsivo”.
Mas comportamento compulsivo – que é apenas uma das características do vício – ainda pode ser problemático. “Se alguém tem consequências muito negativas devido ao comportamento, como perder o emprego, riscos de saúde ou ramificações legais, é provável que o indivíduo tenha esse problema”, diz Michael. Em outras palavras, se seu comportamento está afetando outras áreas da sua vida – por exemplo, você não vê seus amigos mais porque prefere ficar em casa se masturbando –, você pode ter um problema, vício ou não.
Eis algumas coisas que você precisa saber para entender esse problema complexo.
Nem sempre significa que você está tendo ato físico
Imagina-se que “viciados” em sexo fazem muito mais sexo que pessoas normais. Mas esse não é necessariamente o caso. “O problema mais comum que eu atendo é vício em pornografia, web cams com conteúdo sexual, chat sexual ou mesmo troca de mensagens sexuais”, diz Brandy Engler, psicólogo clínico dos Estados Unidos que acredita, sim, que seja um vício real. “Esses homens (a maioria dos casos é do gênero masculino) podem fazer isso enquanto a/o parceira/o está em casa em outro cômodo ou até dormindo ao lado.”
De fato, algumas pessoas com esse problema nem mesmo fazem sexo com outras. “Muitas vezes, a pessoa até perde o interesse em outras, pois está usando pornografia como escape”, diz Michael.
Não é sobre ego
Vicio em sexo tem a tendência de ser glamourizado – quem não quer ter orgasmos o tempo todo? Mas na realidade, as pessoas que sofrem com isso frequentemente se sentem culpadas e com vergonha. “Eles são o oposto do ‘mulherengo’ orgulhoso”.
Se seu/sua parceiro/a é compulsivo quanto a sexo, a probabilidade é que, na verdade, aquilo signifique algo mais profundo. “Eles normalmente têm problemas psicológicos mais fundos e o comportamento é apenas um sintoma”, diz Michael. A maioria dos “viciados” são diagnosticados com problemas mentais como depressão ou transtorno bipolar, segundo Van Kirk.
Perceber o vício no sexo pode ser desafiador
Devido à controvérsia, a maioria das pessoas sentem vergonha, o que faz com que não admitam que têm um problema, nem mesmo para o/a parceiro/a. Dito isso, há alguns sinais:
“O sexo com essa pessoa pode parecer desconexo”, diz Engler. “Dificuldade em atingir o orgasmo ou começa a evitar sexo com você – sim, sério – também podem ser sinais”, completa. “Viciados em sexo não estão procurando transar com todo mundo. Eles são específicos. Por exemplo, se ele gosta de pornô, ele está procurando uma experiência sozinho. Se é alguém que se comporta mal apenas com estranhos, ele pode estar procurando realizar um fetiche particular que não quer revelar a/ao parceira/o.”
E aí tem os sinais maiores: DSTs, problemas no trabalho ou com dinheiro. “Já vi pessoas com esse problema gastar centenas de milhares de dólares nisso”, diz Engler.
Tratá-lo é difícil
“Infelizmente, não há uma prática aprovada pelos órgãos oficiais para esse tipo de tratamento, já que não é diagnosticado como um transtorno mental”, diz Van Kirk. “Os tratamentos que existem, como clínicas de recuperação, são copiados do modelo dos Alcoólicos Anônimos, que requer que você cesse de vez o comportamento. Isso não se mostra um tratamento eficiente, já que sexo é parte da vida”, ela adiciona.
É por isso que ela defende uma abordagem mais mindful. “Eu uso exercícios de mindfulness para que a pessoa perceba seus sentimentos e reduza a ansiedade, junto à educação psicossexual, para ajudá-los a alinhar seu comportamento com seus valores e desejos. Diferentemente da abstinência, eu tento ajudar meus pacientes a encontrarem expressões alternativas para sua sexualidade.”
O que fazer se você acha que seu parceiro tem esse problema?
“Se você quer abordar o assunto, é melhor fazer isso mostrando curiosidade e compaixão em vez de raiva e culpa”, diz Engler. Dado ao fato de infidelidade ser frequentemente ligado a esse tipo de problema, isso pode ser difícil. Em vez de encurralá-lo, lembre-se: “isso é sobre o cérebro dele e sua regulação emocional e ele vai precisar de muita ajuda para se recuperar”, diz.