O aumento ou a diminuição dos níveis desses mensageiros químicos controla seu apetite, seus desejos, o local onde seu corpo armazena gordura e ainda pode ser o fator responsável pelo sucesso – ou fracasso – de sua dieta. “É extremamente comum receber no consultório pacientes culpando os hormônios pelos quilinhos a mais”, conta a endocrinologista Carolina Mantelli, de São Paulo, especializada em metabologia.
A conta nem sempre é tão simples. O ganho de peso é resultado de vários fatores, de alterações químicas até herança genética ou defeitos no metabolismo. “Porém há, sim, situações hormonais que podem estimular o acúmulo de peso. Nesses casos, o tratamento correto favorece um equilíbrio saudável”, diz ela. Com o avanço das descobertas científicas sobre o funcionamento dessas substâncias temperamentais, fica cada vez mais fácil fazer delas suas aliadas.
CORTISOL
Onde fica: Nas glândulas suprarrenais, localizadas em cima dos seus rins.
O que faz: Sua quantidade é elevada na presença de estresse, providenciando uma descarga de energia para que você possa reagir. Uma vez que a ameaça passa, o cortisol aumenta seu apetite para que você reabasteça toda a energia que acabou de gastar (mesmo que não tenha sido tanta assim). Resultado? Você ganha peso – especialmente no abdômen. “O desejo que ele cria é exatamente por alimentos altamente calóricos. Estudos têm demonstrado uma associação direta entre os níveis do hormônio e a ingestão de calorias, especialmente em mulheres”, conta Renato Zilli, endocrinologista do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
Como controlar: Primeiramente, corte o principal suprimento de energia do cortisol: a cafeína, que aumenta a secreção desse hormônio. Em segundo lugar, assista àquele vídeo hilário no YouTube. Rir reduz os níveis de cortisol em até 39%, de acordo com um estudo da Loma Linda University, da Califórnia, nos EUA. “Ou simplesmente encontre sua maneira de relaxar, seja fazendo atividades físicas, dormindo ou meditando”, diz Renato.
TESTOSTERONA
Onde fica: Nos ovários e glândulas suprarrenais.
O que faz: É mais conhecida por turbinar o crescimento dos músculos, a energia e o desejo sexual. Então, quando ela está em baixa, seus músculos (assim como sua libido) tendem a atrofiar, levando a um metabolismo preguiçoso e – bingo! – ganho de peso. Os níveis do hormônio começam a cair aos 20 anos ou quando você usa certos métodos contraceptivos.
Como controlar: Faça um treino de resistência, como balé fitness ou qualquer outro exercício com levantamento de peso (tenha como meta um mínimo de 30 minutos, três vezes por semana), que aumentam sua produção de testosterona. Cortar o consumo de açúcar também pode ajudar no aumento dos níveis do hormônio – pesquisas mostram que comer muitos alimentos doces pode “desligar” o gene que regula a quantidade de testosterona ativa no corpo.
LEPTINA
Onde fica: No tecido adiposo (células de gordura).
O que faz: Ela geralmente está do seu lado, regulando o apetite ao sinalizar quando você está satisfeita. Mas, se as células de gordura onde a leptina se estabelece começam a desaparecer – isto é, se você começa a perder peso –, ela também fica escassa e, quando a leptina é reduzida, você não recebe o sinal de “Ok, já pode parar de comer”, fazendo desse hormônio o culpado pelo efeito sanfona. Por outro lado, carregar quilos extras por muito tempo pode aumentar os níveis da leptina e fazer com que ela perca a sensibilidade.
Como controlar: Evite dietas que incentivem a perda rápida de peso – e o ganho inevitável de volta. Em vez disso, opte por cortar calorias aos poucos e de forma segura. Tenha certeza de que você está consumindo fontes suficientes de zinco: níveis baixos foram ligados a uma diminuição de produção de leptina. A nutricionista Alessandra Luglio, do espaço de saúde P4B, em São Paulo, sugere lentilha, que ainda é rica em fibras, para melhorar o trânsito intestinal. Outras opções são feijão, carne e castanha-de-caju. E não se apresse nas refeições: alimentar-se mais devagar dá à leptina mais tempo para fazer seu trabalho.
GRELINA
Onde fica: No intestino.
O que faz: Parecida com a leptina, ela regula o apetite. Depois que você engoliu seu lanche, ela relaxa por cerca de três horas. Mas, quando você perde peso, seu corpo tenta restabelecer aqueles quilos anteriores, achando que você está com fome: ele aumenta a produção de grelina. Um estudo descobriu que adultos com sobrepeso que perderam cerca de 13 kg têm níveis de grelina 20% mais altos no corpo do que tinham antes de emagrecer.
Como controlar: Um estômago cheio vai mandar a grelina para longe, então se mantenha alimentada, mas com comidas pouco calóricas: frutas, pipoca e snacks saudáveis nos lanchinhos e legumes, verduras e sopas nas refeições principais. E, enquanto está emagrecendo, tente dormir mais e melhor. A privação de sono aumenta os níveis de grelina.
ESTROGÊNIO
Onde fica: Nos ovários.
O que faz: Assim como a progesterona, é responsável pela montanha-russa de sensações no ciclo menstrual. Seu funcionamento é complicado: quando menos ativo, pouco antes da menstruação, você fica mais suscetível a se entupir de comida. Quando ele surge antes da ovulação, seu apetite é reprimido. Se os níveis ficarem muito altos, podem dominar a progesterona, e a condição resultante – chamada de predominância estrogênica – faz a perda de peso ser desafiadora. “Em excesso, o estrogênio produz resultados desagradáveis: retenção de água, estresse, inchaço e ganho de peso”, diz Carolina. “Os efeitos são observados na barriga, nas coxas e nos braços.”
Como controlar: Tenha certeza de que está consumindo fibras o bastante. Elas se ligam ao estrogênio e o movem para fora do corpo por meio do intestino, de forma que ele não volte para sua circulação. Coma 450 gramas de vegetais por dia – um suco verde, uma salada e uma refeição com brócolis e pimentões salteados diariamente irão garantir que você conquiste seu objetivo.
A CONEXÃO QUÍMICA
Você se lembra da polêmica do BPA? Estudos identificaram o bisfenol-A (BPA), um componente usado em plásticos, como um desregulador endócrino, pois simula os efeitos do estrogênio, enganando o corpo. Pois parece que as novas opções são tão ruins quanto. O bisfenol-F e bisfenol-S, que frequentemente substituem o BPA em produtos plásticos, têm efeitos hormonais similares aos causados pelo componente anterior, de acordo com um estudo recente sobre fertilidade e esterilidade. Conclusão: opte por embalagens de vidro.