A endometriose acomete uma a cada 10 mulheres, segundo o Ministério da Saúde. A condição tende a ser caracterizada por cólicas menstruais intensas, dores, inclusive durante as relações sexuais, e dificuldade para engravidar. Em alguns casos, também pode ser assintomática. Embora os sinais sejam os principais pontos de atenção, o diagnóstico correto é indispensável para o devido tratamento.
+ Endometriose pode ir além do útero e cirurgia não garante cura
+ Endometriose: principais sintomas e consequências na saúde feminina
Apesar de necessário, o diagnóstico da doença pode levar de sete a 12 anos, comprometendo, então, a qualidade de vida das mulheres na fase reprodutiva. A laparoscopia diagnóstica, cirurgia minimamente invasiva, é considerada padrão ouro para esse viés, e permite duas técnicas: a visualização direta da endometriose e a realização da biópsia para a comprovação da doença.
A opção, entretanto, requer os devidos cuidados operatórios, desde internação a recuperação, tem alto custo e nem sempre tem o recurso atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Além de considerada pouco acessível, se comprovada a endometriose, muitas vezes, se torna necessário uma ou mais cirurgias, para retirar focos da doença que não foram observados, explica o ginecologista Mauricio Abrão, professor de Ginecologia da FMUSP, Coordenador do Setor de Ginecologia Avançada da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Nova técnica para diagnóstico rápido e acessível
Um estudo realizado pelo especialista, que também é o primeiro médico fora dos Estados Unidos a assumir a presidência da Associação Americana de Ginecologia Laparoscópica (AAGL), avaliou 120 pacientes submetidas a laparoscopia, com imagens pré-operatórias realizadas pelo ultrassom, e chegou a novas conclusões acerca do diagnóstico da endometriose.
“Como resultado, a laparoscopia diagnóstica detectou endometriose retrocervical, ovariana e vesical com sensibilidade e especificidade semelhantes ao do ultrassom. Mas na endometriose vaginal e retossigmoide, a laparoscopia apresentou menor sensibilidade e especificidade do que o ultrassom”, detalha Mauricio.
Para o especialista, o ultrassom transvaginal com preparo intestinal é uma alternativa rápida, segura e acessível. “Ele consegue dimensionar os focos, bem como a localização. Se mostra uma ferramenta importante para o acompanhamento e até mesmo no pré-operatório, quando a paciente precisa planejar a cirurgia, uma vez que só se consegue remover os focos da doença com a laparoscopia ou a cirurgia robótica”, explica. Contudo, a cirurgia nem sempre é uma opção ou a solução para a doença.
Novidade no tratamento
Outro estudo, realizado entre novembro de 2017 a dezembro de 2019, com mais de 2500 mulheres, também com participação do médico brasileiro, ressalta a eficácia de um novo medicamento para o tratamento da doença, o Relugolix.
“Essa medicação consegue bloquear mais rapidamente o funcionamento do ovário. Apesar de não minimizar o foco da doença, é uma grande perspectiva para o tratamento. Aliás, não só dela, mas de todas as doenças que são estimuladas por estrogênio, como os miomas. E tem mais: ele traz uma associação hormonal que evita a osteoporose”, explica Mauricio Abrão.
Segundo o especialista, a medicação em questão se difere das outras existentes. A novidade já foi liberada em alguns países, como Estados Unidos, Portugal e Espanha, mas ainda não há prazo previsto para a comercialização no Brasil.
Em fevereiro, outro estudo, destacou mais um tratamento “bastante potente” para a doença: injeções mensais de anticorpos. O resultado positivo foi analisado a partir da reversão dos sinais dos indicadores de endometriose em macacos cynomolgus, modificados cirurgicamente para ter a doença. Segundo informações do “Science News”, os animais receberam a medicação durante seis meses. Contudo, a pesquisa ainda requer novos ensaios clínicos para a devida conclusão.