Não é de se espantar que muita mulher seja viciada em estar ocupada. Isso acontece porque nós associamos a inatividade a algo zero emocionante. A pandemia é um campo fértil para essa sensação se disseminar. Então, para aliviar a mente dos problemas diários, lotamos nossa vida de compromissos. Isso sem notar, é claro, que o verdadeiro descanso mora justamente no ócio.
A psicóloga inglesa Sandi Mann aborda a questão no livro The Upside Of Downtime [O Lado Bom do Descanso, sem versão em português]. Para ela, não ter o que fazer é um passatempo que evitamos a todo custo. “Ao adotar a inatividade, temos a impressão de estarmos desperdiçando a mais preciosa das commodities: o tempo.”
Somos condicionadas a ser física e mentalmente ativas. Portanto, optar por uma atividade “passiva”, como ver TV ou olhar pela janela, é visto como algo que não tem valor. Assim acabamos nos julgamos, acreditando que poderíamos estar dedicando nosso tempo a um uso melhor dele.
Mas o que significa ser viciada em estar ocupada?
O conceito de que estar ocupada é uma medalha de honra que você precisa ostentar tem nome próprio: síndrome da supermulher. O termo foi cunhado nos anos de 1980 para descrever mulheres que buscavam ter uma carreira de sucesso e cuidar da casa. Contudo, hoje ele é usado por especialistas para identificar as pessoas que escolhem estar permanentemente ocupadas, em detrimento da própria saúde e dos relacionamentos.
E aqui está a parte polêmica: é, sim, uma escolha, embora, na maioria das vezes, inconsciente. Pesquisas mostram que, apesar de mulheres completarem um total de 26 tarefas ao dia, 80% ainda não se sentem boas o bastante – e 72% admitem que esse sentimento vem de uma pressão que colocamos sobre nós mesmas.
De uma perspectiva mais ampla, a luta que travamos contra o ócio está ligada a uma tendência sociocultural. “Vivemos o que podemos chamar de ditadura da eficácia, fazer cada vez mais, com menos recursos. Com isso, acabamos determinando o comportamento das pessoas”, explica Eugenio Mussak, de São Paulo, consultor em desenvolvimento humano e organizacional.
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O resultado é inevitável: ser/estar ocupada se torna um marcador de importância e responsabilidade. Quem não quer isso para si? “Contudo, o outro lado da moeda deveria pesar”, alerta Eugenio. “Estamos sempre angustiados, ligados a outras coisas que não aquilo que fazemos no momento, o que é ruim para a saúde, para os relacionamentos e para a produtividade.”
Se, depois de ler todas essas informações acima, você ficou em dúvida se de fato é uma pessoa viciada em estar ocupada, faça o teste! Caso marque mais de três destas caixinhas, pode estar necessitando de um pouco de descanso.
[ ] Quando apresentada a uma nova tarefa, eu imediatamente entro em ação
[ ] Eu com frequência tenho dificuldade para delegar tarefas aos outros
[ ] Sinto-me completamente atordoada quando faço listas de afazeres
[ ] Tentar relaxar só me faz lembrar de mais uma tarefa que eu havia esquecido que tenho que fazer
[ ] Quando me perguntam como estou, eu me orgulho de falar dos meus afazeres (“ocupadíssima, além do trabalho, ainda comecei um curso…”)
[ ] Tenho dificuldade para determinar se uma tarefa é urgente ou só importante
[ ] Não consigo apenas meditar ou fazer uma massagem relaxando pensando nas sensações do meu corpo sem organizar mentalmente alguma tarefa de trabalho, a lista de mercado…