Distúrbio foi reconhecido recentemente como um problema e as crianças tinham em comum a deficiência de ferro no organismo
Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein
Os distúrbios de movimento relacionados ao sono são aqueles que levam a alguma agitação corporal recorrente e que, de alguma forma, atrapalham o sono de qualidade, trazendo consequências como a insônia. Recentemente, o distúrbio do sono agitado em crianças foi reconhecido como um problema e várias condições que levam ao transtorno foram identificadas – entre elas, o déficit de ferro no organismo.
Estudos já mostraram que o uso de suplementação oral de ferro pode ser modestamente benéfico para crianças com distúrbios de movimento relacionados ao sono, mas uma nova pesquisa, publicada no Journal of Clinical Sleep Medicine, descobriu que a infusão intravenosa de ferro nessas crianças pode ser ainda melhor, pois obteve respostas mais eficazes e com menos efeitos colaterais.
Para chegar ao resultado, os pesquisadores acompanharam uma amostra de 63 crianças com os distúrbios de movimento relacionados ao sono com média de 7,2 anos, por cerca de 16 semanas. Antes da infusão de ferro, 85% delas apresentavam sono agitado, quase metade (46%) tinha dificuldade de iniciar o sono, 41% delas manifestavam desejo de se movimentar durante o sono, 54% tinham dificuldade de manter o sono e 20% tinham um sono não reparador.
Dezesseis semanas após a infusão venosa de ferro, 73% relataram que pelo menos um dos seus sintomas melhorou – o que, segundo os pesquisadores, mostra que a suplementação venosa é benéfica. Além disso, quase um terço dos pacientes apresentou melhora no início do sono; 34% melhoraram a manutenção e 15% afirmaram que tiveram um sono mais reparador.
Uma das principais questões da suplementação oral de ferro são os efeitos colaterais. Nesse caso, após a infusão venosa, os pesquisadores constataram que os efeitos adversos foram mínimos e sem nenhum evento considerado grave/preocupante: alterações de comportamento (9%); desconforto gastrointestinal (6%); dor de cabeça (4%); erupções cutâneas (3%). Todos eram esperados porque também são relatados quando a suplementação é feita de forma oral.
Sono agitado
Segundo a neurologista Leticia Azevedo Soster, especialista em Medicina do Sono do Hospital Israelita Albert Einstein, o primeiro distúrbio de movimento relacionado ao sono é a síndrome das pernas inquietas – uma condição em que a pessoa fica com uma sensação ruim, desconfortável, sente incômodo, pinicamento. “Essa sensação ocorre no final do dia antes de dormir. Uma das principais características é que essa sensação piora no repouso e melhora quando a pessoa realiza alguma atividade”, explica.
Outros distúrbios comuns de movimento relacionados ao sono são os movimentos periódicos de membros, que acontecem quando a criança dorme e fica movimentando braços e pernas durante a noite, particularmente nas transições do sono. Existem também os distúrbios de transição, como bater cabeça para conseguir dormir: “são movimentos que podem até machucar a criança porque ela se mexe demais”, alerta a especialista.
Mas, segundo Leticia, ainda havia um distúrbio de sono que não tinha um “nome” ou uma condição específica. No entanto, ele ocorria em crianças que durante o dia eram normais no sentido de desenvolvimento e comportamento. O problema acontecia em crianças que não tinham características importantes de problemas do sono, como apneia por exemplo, que provoca muitos movimentos e sono agitado. Essas crianças também não tinham síndrome das pernas inquietas, não tinham TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade).
“Eram crianças que durante o sono se movimentavam muito, mas durante o dia não eram agitadas, não tinham outros problemas relacionados ao sono. Essa era uma queixa muito comum em consultório, mas não existia uma classificação para darmos um nome para essa condição. Então, recentemente, em 2018, surgiu uma proposta de classificação desse distúrbio como do sono agitado porque se viu que essas crianças tinham, além das movimentações à noite, e níveis de ferro no organismo mais baixo”, explicou Leticia.
De acordo com Leticia, o nosso cérebro depende do ferro para fazer uma reação que vai finalizar em dopamina. Mas, para chegar ao cérebro, é preciso ultrapassar uma barreira hemato-encefálica (do sangue para o cérebro) e o ferro não passa facilmente essa barreira.
“Quando suplementamos o ferro por via oral é mais difícil atingirmos níveis suficientes para ultrapassar essa barreira. Por isso, o ferro endovenoso tem mais facilidade, sem intercorrências. Esse estudo é mais descritivo porque essa é uma síndrome ainda muito recente, mas a mensagem é que toda criança com transtorno do sono agitado precisa examinar seus perfis de ferro para ver se está tudo bem. Acredito que mais para a frente novos estudos devem ser feitos nessa linha”, completou a neurologista.
Fonte: Agência Einstein
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