Inspiração: “Fiz as pazes com o espelho com aulas de pole dance”

Há mais ou menos quatro meses eu fiz a minha primeira aula de pole dance. Lembro que me avisaram para ir com pouca roupa. Achei que tudo bem optar por uma bermuda com alguma blusinha. Nada disso. Assim que cheguei, a professora já me avisou para tirar a blusa. E essa foi a aula mais difícil que tive até hoje: fiquei uma hora de top e shorts em uma sala repleta de espelhos.

Você já se olhou no espelho com pouca roupa? Já se olhou no espelho por tempo suficiente para se notar e se aceitar? Eu sempre evitei esse tipo de experiência. Muitas vezes me vi, mas nunca me olhei. Minha relação com o corpo nunca foi das melhores, agora que a coisa está melhorando – e ainda falta muito.

Meu desconforto era nítido. Minha barriga, as gordurinhas do braço, as dobras entre o shorts e o top, tudo ali para quem quisesse ver. Que tortura lidar com aquilo.

Ao longo daquela uma hora eu tentei mais me esconder de mim mesma – porque, na verdade, ninguém ali estava ligando para minhas dobras, somente eu – do que realizar os exercícios – que são bem difíceis, diga-se de passagem.

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Além do pole dance, comecei a fazer yoga. Duas vezes por semana estava no estúdio. Quando não fazia pole, eu assistia à aula de pole. As aulas me encantavam. Várias mulheres, de todos os tamanhos e cores, sendo maravilhosas e fazendo coisas incríveis com os seus corpos. Aquilo mexeu comigo – e ainda mexe.

Lembro de uma matéria na Women’s Health que sugeria um treino sem roupa. Vários exercícios para fazer nua. Mas como fazer isso se eu não consigo sequer me olhar por tempo suficiente em um espelho?

Com o passar do tempo comecei a me sentir mais confortável. Perdi um pouco de peso, mas acho que não foi esse o caso. Há aproximadamente cinco anos, comecei uma dieta bastante restritiva e eliminei dez quilos. Mesmo naquela época, ficar de top era algo extremamente constrangedor, inclusive dentro de casa.

Outro dia li uma matéria da Runner’s World dos Estados Unidos em que uma corredora contava a liberdade – e alegria – de correr sem camisa, apenas com o top. Uma mulher linda relatando como o seu corpo se sentia livre ao correr sem impedimentos, sem limitações. Aquilo ficou na minha cabeça. Afinal, quem não quer se sentir livre e à vontade com o próprio corpo?

Aula após aula eu fui me soltando. Aprendi que, realmente, no pole dance, menos é mais. Quanto menos roupa você usa, maior o contato do seu corpo com a barra, o que ajuda na realização dos movimentos. A sensualidade, que é o que todo mundo pensa sobre o pole dance, fica muito longe, ainda mais no começo.

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Até que aconteceu. Durante uma aula de yoga, um calor insuportável, eu decidi tirar a minha enorme camiseta e treinar com a minha calça legging e meu top. E foi libertador! Tudo o que aquela garota relatou sobre correr de top era real: meu corpo estava mais livre, meus movimentos ficaram mais fáceis. Eu me sentia muito mais confortável para passar de uma postura para a outra.

pole dance
Foto Arquivo Pessoal

Finalmente, me sinto mais à vontade em frente ao espelho. Compartilho uma sala com várias mulheres incríveis que se elogiam a todo momento, que se ajudam, se admiram, e isso é maravilhoso. Ninguém olha minhas celulites ou dobras, elas notam meus movimentos e me ajudam a ir mais longe e trabalhar o meu corpo de maneira ainda mais eficiente.

O pole dance está fazendo mais por mim do que qualquer outro exercício que já pratiquei. Ele está me ensinando a amar o meu corpo e me olhar de frente, sem medo e sem julgamentos. Hoje, mais do que nunca, eu vejo o quanto o meu corpo é capaz de fazer e ele está ali por mim, ao meu dispor, basta eu cuidar bem dele. Cobri-lo, por vergonha, é quase um desrespeito.

Agora, depois de quatro meses, os shorts me incomodam e eu busco por roupas que possam me ajudar – ainda mais – nos treinos. O espelho virou meu amigo, porque é através dele que vejo minha postura e consigo me corrigir. Quando deixo a sala, coloco roupa sem querer, porque minha vontade é deixar o meu corpo respirar. Hoje eu me sinto livre. Livre para ser como sou, sobretudo para mim mesma, e essa experiência tem sido fabulosa.

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