Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein
Especialistas da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) estão propondo mudar a classificação para tratamento da obesidade. A sugestão é usar dos termos obesidade “reduzida” ou “controlada” para que médicos e pacientes se baseiem na perda percentual do peso, de 10% a 15%, em vez de usarem como única referência o cálculo do IMC (índice de massa corporal).
A obesidade é uma doença crônica associada ao comprometimento da saúde física e mental do paciente. O IMC é um índice internacional usado há décadas como parâmetro para cálculo da condição por meio de uma fórmula que se baseia no peso e na altura. Pela regra, uma pessoa precisa ter o IMC entre 18,5 a 24,9 para ter o peso considerado normal; entre 25 e 29,9 para ser considerada com sobrepeso; acima de 30 já é considerada um paciente com obesidade.
No entanto, muitas vezes, essa classificação causa frustração aos que buscam o emagrecimento. De acordo com o endocrinologista Márcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e um dos responsáveis pela sugestão, o uso do IMC é importante para pesquisas de prevalência de obesidade, estudos populacionais e até mesmo para identificação dos casos que precisam de tratamento.
No entanto, ainda segundo Mancini, o alcance do “IMC ideal” nem sempre é possível e nem sempre é necessário apenas com o tratamento clínico: uma perda modesta de peso (em torno de 5%) já traz benefícios à saúde, independente do IMC final do paciente.
Por isso, pela proposta apresentada no início de setembro, no 35º Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia, os especialistas sugerem a adoção dos termos obesidade controlada (perda de mais de 10% do peso) ou reduzida (entre 5% a 10% do peso). Os especialistas dizem que essa perda percentual seria melhor e mais factível como meta do tratamento, uma vez que uma diminuição maior é mais difícil de alcançar.
Mancini explica que o objetivo é que médicos e pacientes se conscientizem de que a obesidade é uma doença crônica, assim como hipertensão e diabetes, e, por isso, ela precisa ser controlada. No documento, ele e outros oito especialistas ressaltam que essa classificação é simples e não pretende substituir o uso do IMC, apenas funcionar como ferramenta complementar.
“Vários estudos demonstram que uma perda de 10% do peso máximo atingido é o suficiente para melhorar os índices metabólicos e reduzir os riscos de doenças cardiovasculares associadas à obesidade. Isso permite que médicos e pacientes foquem na manutenção desse peso perdido e que está controlado, em vez de buscar uma maior perda de peso”, explica Mancini.
Melhoras progressivas
No documento, os especialistas destacam que há estudos que demonstram melhoras progressivas na saúde de acordo com a quantidade de peso perdida:
- Uma pessoa que reduz em torno de 3% do peso diminui o risco de complicações por doenças infecciosas (entre elas a Covid-19);
- Uma perda acima de 5% tem impacto em fatores metabólicos como colesterol e triglicérides, além de reduzir dores nas articulações;
- A perda em torno de 7% está associada ao menor risco de desenvolver diabetes tipo 2;
- Já acima de 10%, a perda de peso consegue reduzir o risco de esteatose hepática (godura no fígado).
“Não estamos falando de pacientes candidatos à cirurgia bariátrica porque a perda de peso nesses casos precisaria ser muito maior. A ideia é mudar a forma de tratar pessoas com IMC entre 30 e 40. Para essas pessoas, perder 10% do peso reduz consideravelmente os riscos à saúde”, esclarece Mancini.
“O objetivo do tratamento clínico da obesidade não é normalizar o peso e sim chegar em um peso considerado saudável e conseguir mantê-lo”, complementa.
Para o endocrinologista Paulo Rosenbaum, do Hospital Israelita Albert Einstein, a proposta de mudar a classificação da obesidade é importante porque coloca uma meta realista de perda de peso para o paciente.
“O tratamento clínico atual, com os melhores remédios disponíveis, proporciona uma perda de peso em torno de 10%. Em breve, teremos medicações que conseguem atingir até 20%. O legal dessa proposta é não criar uma expectativa ruim para não gerar frustrações no paciente”, diz.
Segundo Rosenbaum, a partir do momento que a pessoa apresenta uma melhora do padrão metabólico, do diabetes, da hipertensão, das dislipidemias, ela reduz o risco de eventos cardiovasculares e, por isso, entra no que seria classificado como obesidade controlada.
“Uma redução de cerca de 10% do peso já é suficiente para melhorar todos os parâmetros associados à obesidade. A gente já fica satisfeito com o paciente que conseguir melhorar esses índices, mesmo sem chegar no valor que é considerado ideal”.
Fonte: Agência Einstein
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