Sua alimentação está “nos trinques”, mas a sua barriga ainda parece que você engoliu um balão. Isso só pode significar uma coisa: inchaço, e não gordura localizada. O que não é menos frustrante, mas pode ser bem mais fácil de resolver.
Isto é, se você conseguir detectar a causa. “Inchaço é um sintoma e não um diagnóstico, então é necessário descobrir o que está fazendo com que seu corpo tenha essa reação”, explica Peter Whorwell, gastroenterologista da University of Manchester (Inglaterra).
Difícil de engolir
Não é apenas gordura que pode ser confundida com inchaço. Para começar: se você se sente inchada com frequência depois de uma refeição enorme, pode apenas estar cheia. Ou, ainda, talvez precise urinar.
“Em épocas mais frias, por exemplo, transpira-se menos e, como consequência, há o aumento da diurese (xixi)”, esclarece Eduardo André, gastroenterologista de São Paulo. Isso sem falar que, muitas vezes, há uma diminuição dos exercícios físicos aeróbicos durante esse período. “Diminuindo a intensidade e o volume dos treinos, o corpo reduz sua taxa metabólica, resultando em um maior acúmulo de líquidos no organismo”, aponta Marcus Yu Bin Pai, médico pesquisador do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
A melhor maneira de descrever o inchaço – e eliminar a possibilidade de gordura localizada, urina ou comida em excesso – é uma sensação de pressão de dentro para fora no abdômen.
“O que as pessoas experimentam quando falam sobre inchaço é, normalmente, um problema com a digestão”, explica Amanda Hamilton, gastroentereologista do Reino Unido. “A maior parte da comida que você ingere é absorvida no intestino delgado. Os restos se movem para o intestino grosso. É lá que as bactérias se alimentam e fermentam, liberando gases que podem sair do corpo como vento ou acumular e levar ao inchaço.”
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E esse processo tende a levar mais tempo para as mulheres – com a comida passando uma média de 47 horas no intestino grosso feminino, em comparação às 33 horas para os homens.
Mas isso é apenas uma parte da equação. “O que você come influencia a quantidade de gás que irá produzir”, diz Amanda.
Os micróbios no seu intestino reagem na presença de um monte de tipos de bactérias, afetando desde seu sistema imunológico até a saúde do cérebro e – isso mesmo – o inchaço. “Se o seu corpo está exagerando e a comida está fermentando demais, é provável que seja um desequilíbrio no seu microbioma”, diz Tim Spector, professor de epidemiologia genética no King’s College London, da Inglaterra.
Além disso, o estresse e o uso de medicamentos podem afetar a quantidade de bactérias benéficas no nosso corpo. “Quando há um desequilíbrio da flora intestinal, isso pode causar um trânsito mais lento do intestino, produzindo gases e fezes, que ocasionam o inchaço abdominal”, alerta Giovanna Oliveira, nutricionista de São Paulo.
Enquanto certos alimentos – cebola, alho e vegetais crucíferos (como brócolis e repolho), para citar alguns – produzem mais gases, isso não quer dizer que você tenha que evitá-los completamente. “A principal causa do desequilíbrio do microbioma é a falta de diversidade nas dietas modernas”, diz Tim.
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E estamos falando até dos alimentos mais gasosos. “Certas comidas podem fazer com que você infle na hora, mas elas acabarão por melhorar o equilíbrio das suas bactérias intestinais no futuro, então você não vai se sentir assim sempre que as comer”, explica Amanda. De modo geral, é importante não excluir nenhum alimento com alto valor nutricional da sua dieta no longo prazo, pois seu intestino precisa da diversidade de bactérias para funcionar normalmente.
A chave para o sucesso? “Investir em alimentos probióticos (kefir, iogurte, chucrute, kimchi), que deixam o microbioma mais forte e resistente, o que ajuda a evitar o desenvolvimento do inchaço”, ensina Alexandre Sakano, gastrocirurgião
de São Paulo.
Limpando o ar
Uma desculpa típica para quem vive inchada é apontar intolerância alimentar como a culpada. De acordo com Amanda, você pode até ser sensível a certos alimentos, especialmente se os comer o tempo todo, mas é improvável que precise cortá-los completamente. “A recomendação é ingerir os alimentos em pequenas quantidades”, diz Eduardo.
Se o seu médico descartou a possibilidade de intolerâncias, várias coisas podem ser culpadas. Síndrome do intestino irritável ou um transtorno de ansiedade são algumas possibilidades. Para aliviar seus sintomas, um nutricionista pode sugerir a dieta FODMAP. Trata-se, basicamente, de limitar os açúcares naturais, como a frutose e a lactose.
Mas, segundo Amanda, a única maneira de evitar o inchaço que vem com um intestino sensível é manter um diário alimentar detalhado, seguido por uma dieta de eliminação e reintrodução – acrescentando de volta um alimento de cada vez para ver como você se sente (feito sempre com a supervisão de um profissional).
Você também deve considerar que alguns dos seus hábitos podem estar afetando seu estômago. Comer rapidamente ou se distrair durante as refeições é um culpado comum. Não estar focado na tarefa aumenta a probabilidade de você engolir ar ou pode significar não digerir totalmente sua comida. E, se você está comendo com bebida gaseificada, saiba que está piorando as coisas.
Uma das melhores dicas é desacelerar e focar sua atenção na hora das refeições – comendo atentamente e mastigando cada pedaço. Isso faz a saliva fluir e libera todas as enzimas digestivas.
Inchada e distendida nunca mais!
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Faça uma pausa
Quando seu corpo está estressado, ele afasta o fluxo de sangue do estômago e interrompe a digestão. Também libera um hormônio ligado ao aumento da gordura da barriga. Algumas respirações profundas podem fazer uma grande diferença.
Tome água
Desidratação resulta em estagnação intestinal e, em seguida, inchaço. A melhor maneira de se manter hidratada durante todo o dia é deixar uma garrafa de água sempre por perto.
Mexa-se!
Não só o ato de ficar sentada coloca o estômago em uma posição mais comprimida, como também retarda o seu trato intestinal. De hora em hora, fique em pé (ou vá dar uma voltinha). Isso pode ajudar a manter sua
digestão funcionando.