Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
O consumo de cigarros eletrônicos é cerca de três vezes maior entre jovens médicos e estudantes de medicina brasileiros do que o estimado na população geral de adultos jovens. Além disso, uma grande parcela deles não conhece os riscos. Pior: metade sequer sabe que são proibidos no Brasil.
Este é o resultado de uma megapesquisa que avaliou dados de 7.528 alunos e residentes no Brasil, nos Estados Unidos e na Índia — os três países com maior número de faculdades de Medicina no mundo. O trabalho, conduzido pelo Hospital Israelita Albert Einstein em parceria com várias universidades no Brasil e no exterior, acaba de ser apresentado no congresso internacional da “European Respiratory Society”, em Barcelona.
Dos três, o Brasil apresenta os piores índices: cerca de 20% dos estudantes e recém-formados são usuários frequentes – contra 7% do estimado entre jovens adultos brasileiros. Nos Estados Unidos, a pesquisa apontou uma taxa de 10% de usuários e, na Índia, esse número não chega a 1%. A enorme maioria dos pesquisados – quase 70% – inala nicotina e metade usa o fumo com sabor. Mais de 20% usam cigarros eletrônicos contendo derivados da cannabis.
Nada inofensivo
Mais de um terço desse grupo, cerca de 36%, acha que os riscos do vape são mais baixos que os do cigarro comum e muitos desconhecem os prejuízos do fumo passivo dos eletrônicos.
‘O cigarro eletrônico não é nada inofensivo”, enfatiza a pneumologista Luiza Helena Degani Costa, do Hospital Israelita Albert Einstein, uma das líderes do trabalho.
“Já existem vários estudos que indicam que eles causam as mesmas doenças que o comum, como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema pulmonar). Mesmo para usuários passivos, há aumento do risco de desenvolver asma. O uso dos cigarros eletrônicos também aumenta o risco de lesão aguda no pulmão e danos cardiovasculares no longo prazo. E, agora, estamos constatando maior chance de tumores também”, explica Luiza.
A pneumologista afirma, ainda, que os resultados “surpreendem”, já que “teoricamente esse público tem mais acesso a informações, portanto deveria conhecer os riscos e evitar o uso”.
No entanto, a pesquisa mostrou justamente que eles se informam mais pelas redes sociais e amigos do que por artigos científicos. E menos da metade dos jovens médicos assistiu palestras na universidade sobre o tema.
“Temos a responsabilidade de tratar do assunto nas faculdades, já que que estes jovens e futuros médicos serão os responsáveis pelo cuidado da população e pela elaboração de políticas públicas. Mas também temos que discutir o tema precocemente nas escolas, pois muitos alunos começam a usar estes dispositivos antes mesmo de entrar na faculdade”. Segundo os resultados, no caso do vape, a iniciação ocorre em média por volta dos 20 anos.
Referência mundial x risco de retrocesso
O Brasil é considerado um modelo mundial no combate ao tabagismo. Foi o único país que seguiu todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), incluindo educação, proibição do consumo e taxação. Graças a essas medidas, a taxa de fumantes brasileiros despencou cerca de 70% nas últimas três décadas e é praticamente a metade da americana, que só caiu 30% no mesmo período. Por aqui, apenas 11% dos homens e 7% mulheres fumam.
“Infelizmente, com a emergência dos cigarros eletrônicos, estamos vendo toda a história se repetir, com os argumentos de que eles não causam tanto dano. Ao normalizar o consumo, corremos o risco de um enorme retrocesso e de colocar todo esse trabalho a perder”, lamenta a médica.
Fonte: Agência Einstein
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